Coordenadora Ariadne Milani: cursos até as 22 horas e mais de 700 alunos, "a maioria do entorno". |
Saída do Parque para a rua Saicã. |
Na divisa entre o Jardim Botânico e Petrópolis, o Parque
Ararigbóia sempre foi uma referência quando se fala em futebol varzeano em
Porto Alegre. Distante dos áureos tempos de glória, quando reunia um grande e
barulhento público nas arquibancadas de cimento e nos alambrados de arame, o
Ararigboia, hoje, tem poucos jogos e, ademais, apresenta problemas estruturais em
seu campinho – mais especificamente com o seu gramado (em tempos secos
transformado quase em um areal), seguidamente encharcado em períodos de fortes
chuvas, como ressalta a coordenadora do ginásio e dos cursos da instituição, a
professora Ariadne Milane, há sete anos no cargo. “Foram feitas algumas obras,
para acabar com os alagamentos, mas ainda falta repor as telas, mas o campo
agora pelo menos está bem verde”. Com
isso, o futebol – atividade que fez o Ararigbóia famoso em Porto Alegre - deixou
de ser o grande atrativo. Por sua vez, o próprio campeonato citadino amador
decaiu muito nos últimos anos.
Ariadne é coordenadora do ginásio onde acontecem diversos
cursos voltados para a comunidade, esta provinda não só do Botânico ou
Petrópolis como de distantes áreas da cidade. “Vem gente até da Restinga aqui.
Mas a grande maioria dos alunos é do entorno mesmo”. Com centenas de matriculados – em dezembro
passado as estatísticas revelavam 657 alunos, sendo 379 idosos, 201 adultos
(mais de 25 anos) e 30 jovens entre 19 e 24 anos – o Ararigboia funciona de
março a dezembro. Ou seja, reiniciou suas atividades faz pouco tempo, ofertando
atividades como musculação (o curso mais procurado e voltado para homens e
mulheres acima dos 40 anos), alongamento, yoga, ginástica, vôlei, dança,
escolinha de futebol e futebol de veteranos. As atividades começam pela manhã e geralmente
vão até as 22 horas, de segunda às sextas-feiras.
Entre as ruas Felizardo Furtado, Saicã e Maris e Barros, o
ginásio conta com sete professores, todos do município, uma parceria necessária
e que tem dado certo até agora. O poder
público municipal cede os professores e paga as contas, tais como luz (gasto de
sete mil reais mensais, em média), água, telefone e internet. Mas a Associação
Comunitária do Parque Ararigbóia, na realidade, pertence à própria comunidade.
Hoje a entidade – que engloba alunos e quem mais se disponha a contribuir - é
presidida por José Maciel. Quanto ao município, o esporte hoje – no governo
Nelson Marchesan Júnior – foi rebaixado: não é mais uma secretaria e sim uma
diretoria comandada pela secretária e vereadora Comandante Nádia: chama-se atualmente
Diretoria de Esportes, Recreação e Lazer, DIRESP.
50 REAIS - Manter o Parque Ararigbóia a pleno vapor não é tão
fácil, até porque os alunos não são obrigados a contribuir com nada em dinheiro,
caso aleguem carência financeira para tanto. Mas, assim que admitidos – a
admissão se faz por rigorosa ordem cronológica dos pedidos – eles devem pagar
uma taxa de 50 reais por semestre – ou seja, 100 reais a cada ano. “Dos inscritos, eu diria que uns 80%
contribuem”, afirma a coordenadora. As vagas para os cursos e atividades abrem
no dia 5 de cada mês e se prolongam até o preenchimento – mas conseguir uma
vaga não é uma tarefa tão simples assim. “Atualmente, temos poucas vagas”, diz
Ariadne. Os alunos com quatro faltas,
sem justificativa oficial (atestado médico, por exemplo) estão fora e cedem
lugar a outros.
Além de tantas atividades, o Ararigbóia mantem uma cancha de
bocha, frequentada por um grupo um tanto fechado e situada nos fundos do
ginásio, na parte externa, área que não conta com vigilância – não há o serviço
em todo o Parque. “Desde que começou este governo municipal não temos mais
vigilância”, informa Milani. A despeito disso, a, digamos, invasão por parte de
jovens que lá vão fumar maconha é relativamente tranquila e não causa maiores
problemas. “A violência não chega a ser um problema, convivemos até bem com os
maconheiros, eles nos respeitam”.
Neste sábado de início de outono o Parque terá mais um evento
– o Primeiro Circuito de Câmbio da Cidade de Porto Alegre, voltado para pessoas
acima de 40 anos. O nome define uma modalidade adaptada e que mistura várias
formas de jogar e em que se pode alterar regras a qualquer momento. Ao longo
do ano Primeiro Circuito será realizado nos demais centros desportivos
municipais, como o Ramiro Souto (Redenção), o CEPRIMA (bairro Primeiro de
Maio), o CECORES (Restinga), o SESC da Protásio Alves e o Ginásio Tesourinha. O
evento é aberto ao público – a coordenadora conclama o comparecimento da
comunidade do Botânico – e terá um campeão no final de 2019 .
PARQUE ARARIGBÓIA – Rua
Saicã, 6 - Tel: 3338-3304. A Secretaria funciona até as 17 horas.
O campo do Araribóia sediava os jogos do Sul Brasil, o time do empreiteiro Arino, o benfeitor do local na primeira metade do século 20, quando tudo isso era "a várzea de Petrópolis". |
Ararigbóia começou nos
anos 40 do século 20
A história do Parque Ararigbóia remonta às primeiras décadas
do século 20, no tempo da “Várzea de Petrópolis”, como contou – em entrevista
publicada no jornal especial “50 Anos do Jardim Botânico” (publicado em 2009 pelo autor deste blog) o
aposentado Hervé Paschoto Saciloto, presidente da Associação Comunitária na
época.
“Isso aqui era um charco que foi aterrado, situando a data em
que o parque foi criado – fevereiro de 1942, quando Arino Bernardino da Silva
(hoje o nome do ginásio) criou a entidade. Arino era construtor e empreiteiro
que fazia calçamento de ruas. Foi ele quem transformou o terreno em um campo de
futebol e construiu uma arquibancada de madeira para que todos assistissem os
jogos do seu time, o Sul Brasil.
“Em 1953 a Prefeitura juntou-se com a Federação de Bocha e
usurpou o direito da comunidade ocupar o local”, relembra Hervé. Foi também
nesse ano que surgiu o atual nome de Parque Ararigboia.
O conflito entre o pessoal da bocha e aqueles que queriam ter
a volta do futebol durou muitos anos, até que em 1963 os veteranos conseguiram
a primeira vitória: ter um dia só para o futebol, o que antes não acontecia.
Ainda segundo Hervé, no início dos anos setenta restava no local um barracão de
madeira onde se praticava principalmente o vôlei. Em 1980 essa diferença entre
os dois grupos se tornou oficial: o pessoal do futebol assumiu a liderança e o
pessoal da bocha, magoado, criou a sua própria associação em uma cancha do
outro lado da rua Saicã. “Havia então dois presidentes, um do futebol e outro
da bocha”, rememora.
No começo dos anos 90 o local estava meio ao Deus-dará, sujo
e abandonado. Foi quando Hervé – que havia se mudado para Petrópolis a fim de
curtir sua aposentadoria como geólogo – viu o local e decidiu: “Vou cuidar
disto aqui. E virei presidente da bocha, sem nunca ter jogado bocha antes.”
O aposentado sabia que as divergências eram grandes mas
contornáveis. Em 1992 organizou um movimento para integrar os dois grupos,
assumindo como presidente único, sendo sucedido de 93 a 95 por Pedro Paulo
Machado. “Começamos então a lutar pelas reformas do barracão, que era de
tijolos velhos. Vimos que não valia a pena fazer reformas ali e fizemos um
projeto de um novo ginásio de esportes.”
Em 30 de setembro de 1995 o novo ginásio foi inaugurado.
“Passamos também a criar uma cultura de valorização do local junto à
comunidade, para que ela zelasse pela sua conservação. Conseguimos que a
Prefeitura cedesse professores e se responsabilizasse pela parte pedagógica,
como é feito hoje”.
QUEM FOI ARARIBÓIA?
Estátua do Cacique Araribóia em Niterói, RJ. |
Araribóia – Ararigbóia, na grafia antiga – foi um cacique
indígena, da tribo dos temiminós, que viviam no atual Rio de Janeiro, no século
16, e que ajudou os portugueses nas suas lutas contra os invasores franceses
que pretendiam fazer aqui a “França Antárctica”. Os Temiminós (do grupo Tupi)
perderam suas terras para os inimigos Tamoios, e se refugiaram no Espírito
Santo. Lá Araribóia foi convertido ao cristianismo pelos jesuítas. Derrotados e
expulsos os franceses, graças em muito à valentia de Araribóia, em 1573 ele
recebeu do Rei de Portugal as terras do outro lado da Baía de Guanabara para se
estabelecer com sua tribo. É considerado o fundador da cidade de Niterói.
Araribóia morreu em 1589, provavelmente vítima de uma epidemia de varíola. Na
Estação das Barcas, em Niterói, há uma estátua sua.
3 comentários:
Tanta coisa boa no bairro e eu não tinha conhecimento. Vou ficar na torcida para que continue dando certo e para que não surjam "más intenções e corruptures" querendo tirar proveito de um trabalho que é para o bem comum da comunidade
Obrigado, leitora, em breve teremos muitas novidades.
Quem foi a professora de voleibol nos anos 1995 e 1996? Existe algum registro fotográfico? Participávamos de torneios interpraças e competíamos no Tesourinha. Muitas recordações.. aline.romero@gmail.com
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