terça-feira, 26 de março de 2019

Parque Ararigbóia tem centenas de alunos matriculados e uma história muito antiga

Coordenadora Ariadne Milani: cursos até as 22 horas e mais de 700 alunos, "a maioria do entorno".


Saída do Parque para a rua Saicã.

Na divisa entre o Jardim Botânico e Petrópolis, o Parque Ararigbóia sempre foi uma referência quando se fala em futebol varzeano em Porto Alegre. Distante dos áureos tempos de glória, quando reunia um grande e barulhento público nas arquibancadas de cimento e nos alambrados de arame, o Ararigboia, hoje, tem poucos jogos e, ademais, apresenta problemas estruturais em seu campinho – mais especificamente com o seu gramado (em tempos secos transformado quase em um areal), seguidamente encharcado em períodos de fortes chuvas, como ressalta a coordenadora do ginásio e dos cursos da instituição, a professora Ariadne Milane, há sete anos no cargo. “Foram feitas algumas obras, para acabar com os alagamentos, mas ainda falta repor as telas, mas o campo agora pelo menos está bem verde”.  Com isso, o futebol – atividade que fez o Ararigbóia famoso em Porto Alegre - deixou de ser o grande atrativo. Por sua vez, o próprio campeonato citadino amador decaiu muito nos últimos anos.
Ariadne é coordenadora do ginásio onde acontecem diversos cursos voltados para a comunidade, esta provinda não só do Botânico ou Petrópolis como de distantes áreas da cidade. “Vem gente até da Restinga aqui. Mas a grande maioria dos alunos é do entorno mesmo”.  Com centenas de matriculados – em dezembro passado as estatísticas revelavam 657 alunos, sendo 379 idosos, 201 adultos (mais de 25 anos) e 30 jovens entre 19 e 24 anos – o Ararigboia funciona de março a dezembro. Ou seja, reiniciou suas atividades faz pouco tempo, ofertando atividades como musculação (o curso mais procurado e voltado para homens e mulheres acima dos 40 anos), alongamento, yoga, ginástica, vôlei, dança, escolinha de futebol e futebol de veteranos.  As atividades começam pela manhã e geralmente vão até as 22 horas, de segunda às sextas-feiras.
Entre as ruas Felizardo Furtado, Saicã e Maris e Barros, o ginásio conta com sete professores, todos do município, uma parceria necessária e que tem dado certo até agora.  O poder público municipal cede os professores e paga as contas, tais como luz (gasto de sete mil reais mensais, em média), água, telefone e internet. Mas a Associação Comunitária do Parque Ararigbóia, na realidade, pertence à própria comunidade. Hoje a entidade – que engloba alunos e quem mais se disponha a contribuir - é presidida por José Maciel. Quanto ao município, o esporte hoje – no governo Nelson Marchesan Júnior – foi rebaixado: não é mais uma secretaria e sim uma diretoria comandada pela secretária e vereadora Comandante Nádia: chama-se atualmente Diretoria de Esportes, Recreação e Lazer, DIRESP.
50 REAIS - Manter o Parque Ararigbóia a pleno vapor não é tão fácil, até porque os alunos não são obrigados a contribuir com nada em dinheiro, caso aleguem carência financeira para tanto. Mas, assim que admitidos – a admissão se faz por rigorosa ordem cronológica dos pedidos – eles devem pagar uma taxa de 50 reais por semestre – ou seja, 100 reais a cada ano.  “Dos inscritos, eu diria que uns 80% contribuem”, afirma a coordenadora. As vagas para os cursos e atividades abrem no dia 5 de cada mês e se prolongam até o preenchimento – mas conseguir uma vaga não é uma tarefa tão simples assim. “Atualmente, temos poucas vagas”, diz Ariadne.  Os alunos com quatro faltas, sem justificativa oficial (atestado médico, por exemplo) estão fora e cedem lugar a outros.
Além de tantas atividades, o Ararigbóia mantem uma cancha de bocha, frequentada por um grupo um tanto fechado e situada nos fundos do ginásio, na parte externa, área que não conta com vigilância – não há o serviço em todo o Parque. “Desde que começou este governo municipal não temos mais vigilância”, informa Milani. A despeito disso, a, digamos, invasão por parte de jovens que lá vão fumar maconha é relativamente tranquila e não causa maiores problemas. “A violência não chega a ser um problema, convivemos até bem com os maconheiros, eles nos respeitam”.
Neste sábado de início de outono o Parque terá mais um evento – o Primeiro Circuito de Câmbio da Cidade de Porto Alegre, voltado para pessoas acima de 40 anos. O nome define uma modalidade adaptada e que mistura várias formas de jogar e em que se pode alterar regras a qualquer momento. Ao longo do ano Primeiro Circuito será realizado nos demais centros desportivos municipais, como o Ramiro Souto (Redenção), o CEPRIMA (bairro Primeiro de Maio), o CECORES (Restinga), o SESC da Protásio Alves e o Ginásio Tesourinha. O evento é aberto ao público – a coordenadora conclama o comparecimento da comunidade do Botânico – e terá um campeão no final de 2019 .
PARQUE ARARIGBÓIA – Rua Saicã, 6 - Tel: 3338-3304. A Secretaria funciona até as 17 horas.



O campo do Araribóia sediava os jogos do Sul Brasil, o time do empreiteiro Arino, o benfeitor do local na primeira metade do século 20, quando tudo isso era "a várzea de Petrópolis".



Ararigbóia começou nos anos 40 do século 20  
A história do Parque Ararigbóia remonta às primeiras décadas do século 20, no tempo da “Várzea de Petrópolis”, como contou – em entrevista publicada no jornal especial “50 Anos do Jardim Botânico” (publicado em 2009 pelo autor deste blog) o aposentado Hervé Paschoto Saciloto, presidente da Associação Comunitária na época.
“Isso aqui era um charco que foi aterrado, situando a data em que o parque foi criado – fevereiro de 1942, quando Arino Bernardino da Silva (hoje o nome do ginásio) criou a entidade. Arino era construtor e empreiteiro que fazia calçamento de ruas. Foi ele quem transformou o terreno em um campo de futebol e construiu uma arquibancada de madeira para que todos assistissem os jogos do seu time, o Sul Brasil.
“Em 1953 a Prefeitura juntou-se com a Federação de Bocha e usurpou o direito da comunidade ocupar o local”, relembra Hervé. Foi também nesse ano que surgiu o atual nome de Parque Ararigboia.
O conflito entre o pessoal da bocha e aqueles que queriam ter a volta do futebol durou muitos anos, até que em 1963 os veteranos conseguiram a primeira vitória: ter um dia só para o futebol, o que antes não acontecia. Ainda segundo Hervé, no início dos anos setenta restava no local um barracão de madeira onde se praticava principalmente o vôlei. Em 1980 essa diferença entre os dois grupos se tornou oficial: o pessoal do futebol assumiu a liderança e o pessoal da bocha, magoado, criou a sua própria associação em uma cancha do outro lado da rua Saicã. “Havia então dois presidentes, um do futebol e outro da bocha”, rememora.
No começo dos anos 90 o local estava meio ao Deus-dará, sujo e abandonado. Foi quando Hervé – que havia se mudado para Petrópolis a fim de curtir sua aposentadoria como geólogo – viu o local e decidiu: “Vou cuidar disto aqui. E virei presidente da bocha, sem nunca ter jogado bocha antes.”
O aposentado sabia que as divergências eram grandes mas contornáveis. Em 1992 organizou um movimento para integrar os dois grupos, assumindo como presidente único, sendo sucedido de 93 a 95 por Pedro Paulo Machado. “Começamos então a lutar pelas reformas do barracão, que era de tijolos velhos. Vimos que não valia a pena fazer reformas ali e fizemos um projeto de um novo ginásio de esportes.”
Em 30 de setembro de 1995 o novo ginásio foi inaugurado. “Passamos também a criar uma cultura de valorização do local junto à comunidade, para que ela zelasse pela sua conservação. Conseguimos que a Prefeitura cedesse professores e se responsabilizasse pela parte pedagógica, como é feito hoje”.


QUEM FOI ARARIBÓIA?
Estátua do Cacique Araribóia em Niterói, RJ.

Araribóia – Ararigbóia, na grafia antiga – foi um cacique indígena, da tribo dos temiminós, que viviam no atual Rio de Janeiro, no século 16, e que ajudou os portugueses nas suas lutas contra os invasores franceses que pretendiam fazer aqui a “França Antárctica”. Os Temiminós (do grupo Tupi) perderam suas terras para os inimigos Tamoios, e se refugiaram no Espírito Santo. Lá Araribóia foi convertido ao cristianismo pelos jesuítas. Derrotados e expulsos os franceses, graças em muito à valentia de Araribóia, em 1573 ele recebeu do Rei de Portugal as terras do outro lado da Baía de Guanabara para se estabelecer com sua tribo. É considerado o fundador da cidade de Niterói. Araribóia morreu em 1589, provavelmente vítima de uma epidemia de varíola. Na Estação das Barcas, em Niterói, há uma estátua sua.

2 comentários:

Elizabete Silveira disse...

Tanta coisa boa no bairro e eu não tinha conhecimento. Vou ficar na torcida para que continue dando certo e para que não surjam "más intenções e corruptures" querendo tirar proveito de um trabalho que é para o bem comum da comunidade

bairro Jardim Botânico de Porto Alegre disse...

Obrigado, leitora, em breve teremos muitas novidades.