quinta-feira, 28 de março de 2024

Ilhota, a primeira grande favela de Porto Alegre

 A Ilhota - a primeira grande favela de Porto Alegre - estava localizada às margens do arroio Dilúvio, . Habitada, obviamente, por moradores pobres e, em sua maioria, negros ou pardos, era mal vista pelos demais porto-alegrenses, que a consideravam um local de marginais e ladrões - o que, em certa medida, era verdade. Mas o fato é que foi habitada por uma esmagadora maioria de trabalhadores que davam duro para ganhar a vida. Vivendo em sub-habitações, os moradores da Ilhota eram, inevitavelmente, as primeiras vítimas das grandes enchentes que assolavam a capital gaúcha, entre elas a fantástica cheia de 1941. Considerada uma chaga urbana, todos os prefeitos anunciavam que iriam removê-la, o que aconteceu aos poucos e foi consumado durante o governo de Guilherme Socias Villela, na década de 70, quando se construiu o bairro da Restinga, hoje uma verdadeira cidade, e para onde foram transferidas as famílias. Na Ilhota, diga-se de passagem, nasceram gaúchos ilustres, como o compositor Lupicínio Rodrigues e o craque Tesourinha. Nesta reprodução do Correio do Povo de 1966 - portanto, há mais de meio século - o conhecidíssimo fotógrafo Santos Vidarte (uma legenda do fotojornalismo gaúcho) retrata o que era aquela "maloca".



Imagens do Jardim Botânico

 

Panvel na esquina da Felizardo com Barão.

Boteco Vitória, ponto já tradicional na Felizardo com Guilherme Alves.
Edifício comercial e residencial na esquina oeste da Felizardo com Guilherme.
A maior academia do bairro, na divisa com Petrópolis.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Leila Diniz, o símbolo, nascia hoje em Niterói, RJ e teria agora 83 anos

 


Leila Diniz, a professorinha nascida em Niterói, símbolo da alegria de viver, a musa de Ipanema, morreu em um terrível acidente aéreo, no dia 14 de junho de 1972, quando tinha apenas 27 anos. Ela tinha ido à Austrália, participar de um Festival de Cinema e resolveu antecipar a sua volta, com saudades da filha, Janaína, recém-nascida. Ao aterrissar em Nova Delhi, na Índia, onde faria escala, o avião da Japan Air Lines espatifou-se, matando mais de 80 pessoas. Leila só teve seu corpo identificado com a ajuda de peritos norte-americanos. Na época - quando o mundo vivia uma onda de atentados terroristas e sequestros aéreos - chegou-se a falar em uma bomba a bordo. Para o Brasil só voltaram as suas cinzas, já que a Índia não permite outra forma de translado em casos de acidentes aéreos. As duas reproduções foram extraídas do jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, 

Aniversariantes deste dia 25 de março

 

Hoje nasceu Leila Diniz em 1945.

Costinha nasceu hoje em 1923 e faleceu em 2005.
Elton John faz 77 anos.

Imagens do Jardim Botânico nesta segunda-feira pela manhã

 

Um dos tantos postos de gasolina na avenida Ipiranga.

Parada de ônibus na Ipiranga, tendo  ao fundo a PUCRS, esta já no bairro São José..

domingo, 24 de março de 2024

Ninguém mais morre, falece

 Tempos atrás, quando alguém era morto a tiros, a imprensa, via de regra, noticiava que o sujeito tinha sido "abatido" - como se fosse boi em matadouro. Hoje é "executado", não muito melhor, mas pelo menos não é abate de animais, embora, como disse o Rogério Magri, ministro do imortal Sarney, cachorro, por exemplo, também seja ser humano. Ainda nesse capítulo, lá pelos anos oitenta, quando surgiram os tais "manuais de redação", ficou banida a palavra "falecido" das páginas dos diários. Os doutos da Folha de S.Paulo - o jornal da moda naquele tempo - decretaram que ninguém mais é falecido e sim "morto". Essa genialidade do léxico continua até hoje na imprensa brasileira, até mesmo nos obituários: ninguém mais falece. "Fulano de tal, morto ontem, aos 118 anos". Caramba. E agora quem não é "morto", geralmente corre "risco de morte", e não "risco de vida", o normal das normalistas. Perguntem ao professor Pasquale o que ele pensa disso. (V.Minas)

sábado, 23 de março de 2024

Golpe do telefone era comum nos anos setenta

 


Quem hoje liga ou atende um telefonema quando está caminhando pela rua, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo, não imagina o que era a telefonia nos anos setenta. Conseguir uma ligação interurbana era um verdadeiro parto, não existiam telefones móveis e os que haviam, fixos, eram raros e muito caros - tanto que eram declarados como "bens" no imposto de renda, e geralmente levavam anos para ser instalados. Tal dificuldade de comunicação, impensável para a atual geração, gerava até mesmo um comércio clandestino, sem falar em golpistas que prometiam instalar rapidamente os aparelhos fixos nas residências, usando das "boas influências" na companhia estatal - no caso a CRT, Companhia Riograndense de Telecomunicações, de não saudosa memória. As reproduções acima, do CP, atestam isso.

Imagens do Jardim Botânico

 

Edifício na Guilherme Alves, entre a Felizardo e a Itaboraí.

Condomínio Allure, na Felizardo, defronte ao gigantesco condomínio Felizardo Furtado.

sexta-feira, 22 de março de 2024

 logotipo sul21

Educação
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22 de março de 2024
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09:17

ADUFRGS abre inscrições para o debate “A educação na mira da ditadura”


Divulgação

Estão abertas as inscrições para a primeira edição do ano do Ciclo de debates “Construindo Agora o Amanhã”, que acontece no dia 1° de abril, às 19h, com o tema “A educação na mira de ditadura”. Desde a sua fundação, a ADUFRGS-Sindical luta pela democracia e hoje reforça o movimento em repúdio à ditadura de 1964, por memória, verdade, justiça, reparação e não repetição. Nesse contexto, o Sindicato realiza desde 2023 este ciclo, que traz neste primeiro encontro os painelistas Lorena Holzmann, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o professor João Augusto Lima, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A mediação ficará a cargo do jornalista Juremir Machado.

Quem são os painelistas

Lorena Holzmann – Professora titular aposentada do departamento e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS. É bacharel em Ciências Sociais e mestra em Sociologia pela universidade, com doutorado em Sociologia na USP. Tem pesquisas e publicações (livros e artigos) na área de Sociologia do Trabalho. Vencedora do Prêmio Açorianos de Literatura – categoria Ensaio de Humanidades, em 2006, com o Dicionário de Trabalho e Tecnologia, organizado em parceria com o professor Antônio David Cattani. Co-autora do livro Universidade e Repressão – Os Expurgos na UFRGS, publicado em duas edições pela LP&M (1979, 2008).

João Augusto de Lima Rocha – Professor titular aposentado da Escola Politécnica da UFBA. Fundador e membro do Conselho Curador da Fundação Anísio Teixeira. Publicou três livros e mais de uma centena de artigos sobre o educador Anísio Teixeira. O último dos livros, intitulado “Breve história da vida e morte de Anísio Teixeira – desmontada a farsa da queda no fosso do elevador”, foi ganhador, em 2020, do Prêmio Anual na área de Ciências Humanas, da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU). Poeta popular, tem 171 títulos publicados de folhetos de cordel.

Sessão de autógrafos

Após o painel, haverá sessão de autógrafos da obra “Breve história da vida e morte de Anísio Teixeira, desmontada a farsa da queda no fosso do elevador”, de autoria do professor João Augusto de Lima Rocha.

Serviço

O quê: Ciclo de Debates “Construindo agora o amanhã” – Painel “A educação na mira da ditadura “

Quando: 1º de abril, 19h

Onderua Barão do Amazonas, 1581

Ingresso solidário: pacote de absorventes higiênicos

Sindimoto, na Itaboraí, representa os motociclistas profissionais em Porto Alegre

 

Valter: "problema cultural" explica porque serviço de moto-táxis é quase inexistente em Porto Alegre.

O único sindicato de motociclistas do Rio Grande do Sul está no Jardim Botânico há muitos anos, período em que importantes conquistas foram obtidas por uma categoria que engloba não só os tradicionais “motobóis” – aqueles que a gente geralmente aguarda com ansiedade quando pede uma pizza, por exemplo – como também os moto-taxistas, importantes em muitos outros Estados e capitais, porém ainda presentes em pequeno número em Porto Alegre.
“Ao contrário do que muita gente pensa, qualquer pessoa que tenha uma moto pode se associar em nossa entidade”, informa Valter Ferreira da Silva, presidente e especialista em trânsito cujo expediente diário – de segunda às sextas feiras – em uma casa alugada na rua Itaboraí, 1090 – envolve um sem número de questões, reclamações e reivindicações de centenas de associados que vão lá, na maioria das vezes, para entrar, via sindicato, com recursos contra as multas de trânsito que recebem diariamente nas vias da capital.
“Temos sido bem sucedidos nisso, os resultados são muito bons”, garante Valter. “Tem multa de tudo que é tipo, a principal é a do uso do celular e na qual o motociclista é multado sem ser avisado.” Os multadores, no caso, são funcionários de rua da Empresa Porto-alegrense de Transporte e Circulação (EPTC) e seus famosos “azuizinhos’. Mais do que atender aos motociclistas, o Sindicato da rua Itaboraí trabalha para “derrubar” também as multas consideradas injustas que atingem condutores de outros veículos automotores, sejam eles carros ou mesmo caminhões.
MOTOTÁXI – O Sindimoto é o único em seu gênero no Estado, embora, de direito, não represente todos os municípios do Rio Grande do Sul. “O Sindimoto não representa o Estado, mas é o único dele, ele não é de direito, mas é de fato um sindicato estadual”, explica o presidente, lembrando que a entistá presente em muitas cidades gaúchas – entre elas Caxias do Sul e Pelotas, as duas maiores do interior, onde mantem delegados sindicais.
Indagado por que o serviço de moto-táxi é tão tímido, praticamente inexistente, em Porto Alegre, no inverso de outras capitais brasileiras (entre elas Florianópolis), Valter afirma que na realidade não há impedimento legal para tal prática de transporte pago e que recentemente ganhou destaque no noticiário quando a atriz Bruna Marquezine valeu-se de um moto-táxi para fugir das complicações do trânsito no Carnaval de Salvador.
 “Não há impeditivo”, garante Valter, “isso pode ser feito por qualquer um, legalizado. Hoje, em Porto Alegre, eles estão mais nos bairros, como por exemplo na Restinga, e quase não se instalaram na área central. O que se nota é um problema cultural da nossa gente, que prefere os outros transportes. Mas se alguém estiver interessado em ser moto-taxista, pode vir aqui que a gente dá toda a assistência”.
Hoje o Sindimoto registra mais de 13 mil associados, número que pode parecer alto não fosse o fato de que poucos realmente pagam suas contribuições mensais. “Os efetivos mesmo são cerca de 1.000, e eles mantém a entidade”, ressalta o presidente. Quanto ao fim da contribuição sindical obrigatória – o que aconteceu ainda no governo Michel Temer, com sua reforma trabalhista – a medida atingiu o Sindicato, assim como todos os outros. “Para nós, claro, foi um baque, mas para outros foi muito pior”. Segundo Ferreira, a contribuição obrigatória representava cerca de 10% da receita mensal: “Nós nunca vivemos da contribuição sindical, ela não era nosso carro-chefe”.

LUTAS E CONQUISTAS – O Sindicato dos Motociclistas Profissionais foi fundado em 13 de junho de 1998, em Porto Alegre, por um grupo de motociclistas (Valter é desses sócios-fundadores) que queriam maior reconhecimento e respeito pela categoria. A primeira convenção coletiva de trabalho foi assinada em 2005 com o Sindicato das Empresas de Tele-Serviços do Rio Grande do Sul, o que resultou no piso salarial (um salário mínimo), a conquista legal do reembolso do combustível utilizado pelo motociclista e a indenização do uso de moto por aluguel. O Sindimoto também foi importante no estabelecimento do seguro de vida obrigatório com custeio total por parte das empresas e o fim do chamado “banco de horas”. Outra luta vencida, graças a insistentes negociações, foi a regulamentação dos serviços de moto-frentista e moto-taxista – algo que se estendeu para o interior do Estado. A entidade também elaborou o Guia do Motociclista, com dicas, advertências e lições de pilotagem. Em 2014 conseguiram finalmente o adicional de periculosidade – um ganho de 30% nos proventos dos profissionais.
O Sindimoto também é responsável pela organização da Procissão dos Motociclistas em louvor a Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 de outubro de cada ano.

Tênis de mesa no Parque Ararigboia, neste sábado

 

Porto Alegre para este fim de semana

22/03/2024 10:23
Pedro Piegas / PMPA
Executivo
Novas quadras de beach tennis do Parque Moinhos de Vento recebem primeiro torneio neste fim de semana

A Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Juventude (Smelj) divulga a agenda de atividades esportivas que ocorrem neste sábado, 23, e domingo, 24. Em caso de condições climáticas desfavoráveis, a agenda pode sofrer alterações.

Futebol - O sábado será marcado pelos jogos no Trecho 3 da Orla. Nas quadras 20 e 21 ocorre a Copa da Orla Record. As atividades começam às 8h30. O campeonato reúne times da Capital e da Região Metropolitana. Neste sábado, o torneio recebe equipes da categoria sub-13.

Futebol de mesa – Neste sábado, a partir das 9h, ocorre a Taça Aniversário de Porto Alegre de Futebol de Mesa, no Parque Ararigbóia, localizado na rua Saicã, 6, no bairro Jardim Botânico. O evento conta com a presença de botonistas da Capital, Canoas, Cachoeirinha, Esteio, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Viamão, Cachoeira do Sul e Pelotas.

Beach Tennis - Durante o sábado e domingo, ocorre o Torneio Aberto de Beach Tennis no Parcão, a partir das 9h. Os jogos ocorrem nas categorias D e Iniciante, com duplas masculinas e femininas.

Vôlei - A segunda etapa do Circuito Porto Alegre de Vôlei de Praia será no sábado e no domingo, no Parque Marinha do Brasil. O evento é dividido nas categorias mista, femininas e masculinas. No sábado, a competição é para as duplas mistas e, no domingo, entram em quadra as duplas masculinas e femininas.(aSSESSORIA DE IMPRENSA PMPA) 

segunda-feira, 18 de março de 2024

Imagens do Jardim Botânico

 

Salvador França com Roque Gonzales. Ao fundo vê-se o Morro da Polícia, ou da TV.

Esquina da Salvador França com o término da Dona Inocência. Os dois eram casados na vida real.
Pitoresca residência na La Plata com a Machado.

A cidade é feia mas a luz é magnífica, disse Camus

 Sempre gostei de Albert Camus romancista, como em A Peste. Aconteceu de me cair à mão um livro dele sobre uma viagem que fez a América do Sul em 1949, quando era ainda jovem (aliás, morreu jovem) mas já muito famoso e respeitado. É um diário de viagem, delicioso de ser lido.

Lendo as anotações da viagem por várias capitais brasileiras, cresceu ainda mais a minha admiração por Camus. Ele estava deprimido quando visitou o Brasil, país do qual não levou lembranças muito lisongeiras, incluindo a sua rapidíssima passagem por Porto Alegre, cidade que achou feia, mas cuja luminosidade (deveria ser um daqueles dias de geada, sem uma núvem no céu azul) considerou muito bela. Teria dito: "A cidade é feia mas a luz é magnífica".
Também me chamou a atenção a sua descrição do trânsito brasileiro e o seu espanto com os motoristas brasileiros. Segundo Camus, existem aqui dois tipos de motoristas: os "loucos alegres" e os "frios sádicos".
Definições estupendas - é exatamente isso, até hoje, mais de sete décadas depois. Basta ver o que acontece em Porto Alegre, cidade que, hoje, é território livre dos "motoqueiros loucos", aliás, loucos e sádicos também. Esses dias um deles quase me matou aqui em frente do edifício.
Outro fato que chamou a atenção do escritor argelino foram as cenas que viu de atropelamentos nas grandes cidades tupiniquins. Mais do que o atropelamento em si, ele achou bárbaro e revoltante o costume de se deixar o corpo estirado no local, coberto com um lençol, enquanto se aguarda, por horas e horas, a chegada da tal perícia técnica.
Eu não tinha me atentado sobre esse assunto.
Mas, pensando bem, é sim um costume bárbaro e que mostra bem o que somos. (Vitor Minas)

domingo, 17 de março de 2024

Imagens do Botânico neste domingo

 

Cavanhas, tradicional rede de restaurantes, lanches e pizaria que existe desde 1984, localizado na Barão do Amazonas, ao lado do Itaú. 
Banco Itaú, pertinho do Bradesco, na Barão.

Edifício na La Plata, quase esq. Ipiranga, com as inevitáveis pichações

Outro prédio na La Plata
Edifício em construção na Chile, mais um arranha-céu no JB.

Mário Quintana aos 34 anos de idade

 

Mário Quintana, o maior poeta gaúcho, faleceu em 1994. Nascido no Alegrete, em 1906, trabalhou muito tempo na Editora Globo, onde foi tradutor de importantes escritores mundiais - incluindo Marcel Proust. Nesta foto, de 1940, da Revista do Globo, ele aparece em seu ambiente de trabalho, na Livraria do Globo - que não mais existe - um ponto de encontro dos intelectuais gaúchos da primeira metade do século 20. Nesta época ele tinha apenas 34 anos.

Imagens do Jardim Botânico

 

Um dos mais antios edifícios do bairro, na esq. da Jacob Vontobel com Salvador França.

Esquina da Ipiranga com Terceira Perimetral, local de muitos acidentes de trânsito em Porto Alegre.

Os passarinhos de hoje e os de antigamente

 No passado todo mundo, ou quase todo mundo, matava passarinhos. Especialmente no interior, não se podia ver nenhum pássaro dando sopa no galho de uma árvore, em um poste, em um telhado de casa, que o garoto, com seu estilingue ou quem sabe espingardinha de pressão não mirasse no bicho emplumado, para abatê-lo, assim como os brancos norte-americanos do Velho Oeste faziam com os bisões de dentro dos trens. 

Matava-se mais por uma questão de honra e machismo, pode-se dizer. Deixar um passarinho lá em cima era quase uma afronta. Eu mesmo matei muitos, não tanto como meu irmão, mas matei. Sentia pena, muitas vezes ao pegar o bicho quente, com o coração ainda batendo, nos seus estertores finais, sem ter álibi para o meu crime. No entanto era quase uma regra de conduta entre os meninos que passarinho era um alvo e que matá-los era quase nosso dever, parte da afirmação masculina.
Hoje tudo mudou - a consciência ecológica, a evolução social e civilizatória as próprias leis que punem coisas desse tipo, fizeram com que matar passarinho se tornasse uma espécie de escândalo, de crime contra os seres vivos, de atentado à natureza. Pior, pode dar até detenção e, mais pior ainda, virar notícia na imprensa: Fulano foi pego matando um passarinho.
Moro em um condomínio, aqui no Jardim Botânico, o Felizardo Furtado, que tem muitas árvores e vegetação, em um bairro onde há muitos pássaros, de todo o tipo e cor - coisa que não sei distinguir, assim como não sei distinguir espécies de árvores. Pois notei, de uns anos para cá, uma radical e alentadora mudança nos hábitos desses pequenos animais canoros causada pelo sossego e harmonia que hoje convivem face à raça humana: eles não têm mais medo dos homens e nem dos meninos, sentem-se tranquilos, como sempre deveriam estar. 
Antigamente os pássaros eram temerosos e arredios ao homem - quando viam algum, tratavam de voar rumo a um local mais distante e seguro. Sentindo-se alvos da maldade humana, mantinham-se acuados e com aversão aos humanos. Voavam sempre, preservando a própria vida.
Agora tudo mudou. Eles caminham nas calçadas e muros, nos terrenos baldios, nos postes e nos parapeitos com absoluta paz e tranquilidade. Passam à nossa frente, no chão, e nem se dão ao trabalho de atravessar de lado. Esses dias mesmo, no gramado aqui em frente, tive de desviar de um sabiá-laranjeira que seguia pela calçada, atrás de algum alimento. Ele não deu a mínima pela minha presença e apenas arredou um pouco de lado. Creio que, se quisesse pegá-lo, eu o faria sem maiores problemas. 
Aí pensei na minha infância, lá no mato, e como eu era cruel e idiota matando passarinhos. Na verdade deve ser por isso que tenho tantas culpas a expiar - fui um inimigo da Natureza e um serial-killer de pássaros. Mas pelo menos tenho algo a meu favor: não os prendia nas gaiolas, como se fosse o executor de uma prisão perpétua, assim como fazem esses caras que em todo o mundo aprisionam os bichos apenas para vê-los cantar. Gente boa, a maioria deles, pacata e cumpridora dos seus deveres. Mas insensíveis e cruéis como eu também fui - "passarinho na gaiola feito gente na prisão". 
Talvez um dia a evolução da sociedade também proíba essa gente de tal prática criminosa. Pelo menos tenho esperança. Liberdade aos pássaros.
A propósito: ao contrário de algum tempo atrás, notei que os passarinhos - que faziam uma algazarra ao amanhecer - silenciaram subitamente. Onde estão eles, não sei. Alguma coisa está acontecendo, resta saber o que é. (Vitor Minas)

Deu Pra Ti Anos Setenta estréia em Porto Alegre: 1979

 

É, o tempo voa!... Já se passaram mais de 40 anos desde que o espetáculo musical Deu Pra Ti Anos 70 estreou em Porto Alegre, naquele mês de dezembro de 1979. Estavam lá, jovenzinhos, o hoje sessenta Ney Lisboa e Augusto Licks, entre outros. Ainda se vivia o regime militar, Porto Alegre era uma cidade de 1 milhão de habitantes, com telefones públicos movidos a fichas, os discos eram os de vinil (long-plays e compactos) e havia poucas rádios FMs no Rio Grande do Sul. Deu Pra Ti depois se transformou em peça de teatro e - naqueles deliciosos tempos precários - teve sua divulgação feita com pichações escritas nos muros e fachadas da Capital. Foi um marco na despedida da década de setenta e no sonho de uma melhor que viria em seguida. A reprodução é do Correio do Povo.

sábado, 16 de março de 2024

O início da televisão no Rio Grande do Sul visto por Sampaulo

 


Sampaulo - ou Paulo Brasil Gomes de Sampaio - nasceu em Uruguaiana e, por seu talento no humor e nos traços, tornou-se um dos mais importantes e conhecidos chargistas da imprensa gaúcha.  O seu personagem Sofrenildo fez grande sucesso no antigo Correio do Povo, onde ganhava grande espaço e destaque. Sampaulo faleceu em fevereiro de 1999. Nesta reprodução da Revista do Globo, de 1960, diverte-se com os primeiros anos da televisão no Rio Grande do Sul - a TV Piratini, Canal 5, a pioneira, foi inaugurada no final de dezembro de 1959. Hoje transmite o SBT.

Imagem do Jardim Botânico

 

Casa de madeira na rua Felizardo. Elas resistem à verticalização e remetem a um tempo em que o bairro era bem mais modesto.

Está chuveno em portalegre...

 Ah, os regionalismos vocabulários do Brasil. Os paulistas não dizem não, dizem num. Nós, gaúchos, grande parte, diz mãs e não mas. Os cariocas e fluminenses consideram uma festa uma "feishta" e não são nascidos e sim "naiscidos". Os nordestinos põem o U no lugar de O, ou sejam é "butar" e não botar. Porém, disseminado por muitos Estados e regiões, Minas, SP, Nordeste, Goiás, é o uso de palavras abolindo o gerúndio: "fazeno" em vez de fazendo, "andano" em vez de andando e por aí afora. Um dos praticantes dessa modalidade era o ex-técnico (durou pouco)  da seleção brasileira de futebol, Fernando Diniz. O time dele, segundo fala, esteve "jogano" bem mas acabou "perdeno". A propósito, está "chuveno" em Portalegre... (V. Minas)

sexta-feira, 15 de março de 2024

No tempo em que os cachorros loucos aterrorizavam no mês de agosto

 

O mês de agosto, antigamente (nem tão antigamente assim) era considerado o mês dos cachorros loucos, em referência ao grande número de raiva canina, ou hidrofobia, que acontecia nesse período do ano. Até mesmo os pais alertavam as crianças para não se aproximarem de cães vadios e observarem, de longe, se tais bichos estavam babando ou com espuma na boca - sintoma da raiva. Hoje, com tantas vacinas e cuidados aos animais, nem mais se fala nisso e não se registram casos de transmissão da raiva do cachorro para o ser humano através da mordida - algo terrível, se não houvesse a imediata aplicação de injeções dolorosas em volta do umbigo. Nesta matéria, de janeiro de 1976 - publicada pelo Correio do Povo noticia-se o grande número de cães hidrófobos que vagavam pela badalada praia do Laranjal, em Pelotas, causando temor entre os moradores e os veranistas. 

Imagens do Jardim Botânico

 

Sede da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde, FEEPS, na avenida Ipiranga, 5400.

Outro prédio antigo de uma família de comerciantes tradicionais do JB. Na esquina da Felizardo com a Serafim Terra, defronte a ESEF, era onde funcionava o restaurante do senhor Jandir. Hoje há outras lojas no local, como barbearia, sapataria e minimercado.