sábado, 13 de abril de 2019

Tesourinha, o mito colorado, foi um dos maiores craques do futebol brasileiro e o primeiro negro a jogar no Grêmio

Tesourinha foi o maior ídolo colorado de todos os tempos e a mais cara transação do futebol brasileiro no início dos anos 50. Reprodução da Revista do Globo.

Em final de semana de Grenal, um afago nos irmãos colorados: a história de Tesourinha, o mito do Rolo Compressor.

17 de junho de 1979, uma noite de sábado para domingo, é uma data triste para o futebol gaúcho e brasileiro. Nesse dia, em Porto Alegre, falecia Osmar Fortes Barcelos, mais conhecido por Tesourinha. Um dos maiores pontas-direitas do futebol brasileiro encerrava a vida com apenas 57 anos, vítima de um câncer no estômago, deixando, atrás de si, uma lenda futebolística e um modelo a ser seguido. Mito do Internacional, carro-chefe do famoso Rolo Compressor que foi hexacampeão gaúcho, de 1940 a 1945, Tesourinha ganhou esse apelido pelo fato de seu pai integrar um famoso bloco carnavalesco da capital, o Tesouras, formado em sua maioria por negros, e que marcou época nos anos 20, 30 e 40. Ele foi o primeiro jogador negro da história do Grêmio Porto-alegrense, onde também jogou, dando fim a um período de discriminação racial no hoje popular e democrático clube gaúcho.
Tesourinha foi campeão sul-americano pela Seleção Brasileira nos anos quarenta, formando ao lado de Heleno de Freitas, Zizinho, Jair e Ademir, e só não participou da malograda Copa do Mundo de 1950 no Brasil, aquela do Maracanaço, por ter estourado os meniscos quando jogava pelo Vasco, clube para o qual se transferiu no início daquele ano, naquela que foi considerada a maior transação do futebol brasileiro da época. Muitos consideram que sua ausência foi uma das causas da perda do título para o Uruguai.
Nascido em 3 de outubro de 1921, de família pobre, no bairro pobre da Ilhota, a primeira grande favela de Porto Alegre, era filho de um motorista e de uma dona de casa. Seu pai faleceu quando ele tinha apenas 12 anos. Começou a jogar futebol em criança, em um dos times da famosa Liga da Canela Preta, uma associação de jogadores de cor que se contrapunha ao racismo imperante no esporte de então. Em 1940 Tesourinha já estava no Internacional de Porto Alegre, onde ficaria por dez anos, formando o temível ataque colorado com Vilalba, Russinho, Ruy e Carlitos. Em 1946, ao final do campeonato sul-americano, atual Copa América, vencido pelo Brasil, Tesourinha foi escolhido pela crítica “o maior ponteiro da América”. Mais tarde ganhou o título de “Craque Melhoral”, distinção concedido por uma empresa de medicamentos ao melhor jogador brasileiro do ano,
Tesourinha foi comprado pelo Vasco no final de 1949, e o Vasco era o mais caro e vitorioso time da época, a base da seleção brasileira. Porém o problema no joelho fez com que pouco durasse em São Januário. Em 1952, já com seus trinta anos, foi contratado pelo Grêmio, Grêmio que no ano seguinte completaria 50 anos de glórias. O garoto pobre da Ilhota voltava à terrinha.
Mas Tesourinha era colorado de coração e foi no Inter onde jogou o fino. Em 1969, quando da inauguração do Gigante da Beira-Rio, foi homenageado pela nação colorada. Com lágrimas nos olhos, retirou, como merecido troféu, as redes das goleiras do velho Estádio dos Eucaliptos, palco das suas grandes atuações pelo Internacional. Defensor da classe esportiva e do futebol varzeano, onde se formou, Osmar Fortes Barcelos foi laureado postumamente com a Copa Tesourinha de Futebol Amador da Federação Gaúcha de Futebol e com um centro esportivo que leva seu nome. Ele sempre dizia, com orgulho: “Vim da várzea, me torneio ídolo e não posso negar meu apoio visando melhorar a estrutura desse futebol varzeano, de onde saem os grandes craques. É lá onde tudo começa”
Logo após a sua morte, em uma crônica no velho Correio do Povo, o jornalista e colorado Valter Galvani fala da honra de ter conhecido Tesourinha, o craque fabuloso, e Osmar Fortes Barcelos, o homem afável de sorriso largo. Menino vindo do interior, lembrando da primeira vez que o viu jogar, Galvani escreveu a 24 de junho de 1979 a crônica “Tesoura, um Certo Sorriso”: “Eu diria que o vi em campo, naquela longínqua tarde de 1944, com o seu largo sorriso. Tesourinha foi um herói a seu modo, um herói modesto, simples e calmo, capaz de levar as plateias até o delírio. Nunca esqueci suas jogadas, mas jamais esquecerei o seu sorriso de bondade.” (Pesquisa e Texto: Vitor Minas)

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