segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Parque Ararigboia começou nos anos quarenta

 PUBLICADO EM 2008. fOTOS: Presidente hervé e turma do volei.


Na divisa entre o Jardim Botânico e Petrópolis, o Parque Ararigbóia, se falasse, teria muitas histórias a contar. Na antiga "Várzea de Petrópolis", em um terreno que já foi alagadiço, ocupa um quarteirão inteiro, entre as ruas Felizardo Furtado, Saicã, Lavradio e Mariz e Barros. Tradicional ponto de lazer dos dois bairros, já foi conhecido como o "campo do Sul Brasil", um clube de futebol que marcou época nas redondezas. Somente em 1953 é que foi batizado como "Ararigbóia", em homenagem ao cacique índio que ajudou os portugueses a expulsar os invasores franceses do Rio de Janeiro, no século XVI.
Conhecer a história do Ararigbóia é um passeio por muitas décadas. Hoje um centro de esporte, lazer e saúde, o local foi fundado por um empreiteiro chamado Arino Bernardino de Souza, em fevereiro de 1942 - hoje ele é o nome do Ginásio, inaugurado em 30 de setembro de 1995.
Quem sabe tudo, ou muito, da história do Parque Ararigbóia, é o presidente da Associação Comunitária do Parque Ararigbóia, Hervè Paschoto Saciloto,  um geólogo aposentado, durante muitos anos funcionário da Petrobrás (trabalhou mais de 30 anos na Bahia) e que, quando mudou-se para a rua Mariz e Barros, em 1991, ao olhar o local, quase abandonado, mal-cuidado, decidiu: "Vou cuidar disso aqui".
O Ararigbóia, então, já tinha muitos anos de história, mas estava sendo muito mal aproveitado e não integrava a comunidade à sua volta. Havia um barracão de tijolos, mal ajambrado, e uma cancha de bocha na rua Saicã. O pessoal do futebol tinha o seu presidente, e o da bocha, outro. Hervè - que nem sabia jogar bocha - entrou para a segunda turma e ficou como presidente deles, e, em 1992, fez um movimento para integrar os dois grupos. Conseguiu, e elegeu-se presidente da Associação Comunitária, fundada em 1980. Ficou nessa condição até 1995, quando foi sucedido por Pedro Paulo Machado, o "Pedrinho" - uma das referências maiores quando se fala no Parque.
Nesse tempo eles iniciaram uma luta para reformar o barracão que ali havia, "até que vimos que isso não valia a pena". Surgiu então o projeto de um novo ginásio de esportes, que foi aprovado e construído pelo Orçamento Participativo da Prefeitura de Porto Alegre, do qual seu Hervè era conselheiro. "Aí tivemos que criar uma cultura para que a comunidade cuidasse da sua conservação, sendo que a Prefeitura entraria com professores e a parte pedagógica para as atividades que nós queríamos", conta ele.
TERCEIRA IDADE - O Parque Ararigbóia, com seus mais de 700 frequentadores fixos e inúmeras atividades para todas as faixas etárias, de toda a cidade, não é mantido com verbas da Prefeitura - ao contrário do que muita gente pensa. O poder público apenas auxilia na manutenção e algumas melhorias, mas o dinheiro que sustenta a entidade vem da comunidade e das rendas obtidas pelo Parque.
"A maior parte vem da mensalidade paga pelos associados da Associação Comunitária, que são cerca de 700 e contribuem, a cada semestre, com 20 reais cada. É gente de toda a cidade, a maioria daqui dos nossos bairros, e pagam certinho", relata Hervè. "Tudo o que tem dentro do ginásio foi comprado com dinheiro da comunidade. E, com isso, conseguimos fazer muitas coisas. Agora vamos pintar o ginásio e botar ar condicionado no salão de ginástica, no segundo pavimento".
O Parque Ararigbóia conseguiu arregimentar a comunidade à sua volta, não só pelas várias atividades ali desenvolvidas - futebol, bocha, basquete, vôlei, ginástica, alongamento, musculação - como também em palestras realizadas em colégios. É o chamado "Grupo de Educação para o Envelhecimento", uma iniciativa de Hervè que consiste na ida aos colégios dos bairros vizinhos para troca de experiências com crianças e adolescentes. A idéia surgiu no ano 2000 e segue em pleno curso. Uma vez por semana um grupo da Terceira Idade vai às salas de aula, conversar com alunos sobre temas tão diferentes como a sexualidade, a saúde, a carreira profissional, o bem estar, os bons hábitos, a importância do exercício físico, da boa alimentação, do carinho - sem nenhum moralismo. "Já nos encontramos com mais de 2500 crianças, e agora estamos nos encontrando com adolescentes", informa Hervè. "Falamos de nossas vidas, do que era no passado, do que era um fogão a lenha, de coisas que eles nem conhecem. E a aceitação nos surpreendeu".
Um vez por mês o grupo, integrado por cerca de 16 idosos, reúne-se para fazer uma avaliação do trabalho.
ARQUIBANCADA - Arino Bernardino da Silva dá nome ao ginásio. O empreiteiro, construtor de ruas e calçados, foi quem deu "formato" ao atual parque, em 1942 - antes o local era um espaço público, um charco que ele aterrou e deu vida.
"Ele fez o campo de futebol, uma arquibancada de madeira e criou o time do Sul Brasil, que fazia campeonatos de futebol entre os bairros", conta seu Hervè. Em 1953, (quando passou a se chamar Ararigbóia) a Prefeitura de Porto Alegre juntou-se com a Federação de Bocha "para usurpar o direito da comunidade de ocupar esse espaço". Segundo o presidente da Associação, eles se apropriaram do campo: "As pessoas, para jogar no campo, tinham que ir na Prefeitura às 4 horas da manhã para tentar marcar um horário".
Acontecia ali o Campeonato Estadual de Bocha. Em 1963 foi criada a associação dos Veteranos do Futebol, que lutou para ter um dia seu no calendário do campo - e conseguiram. No início dos anos 70 a cancha de bocha foi extinta, restando o barracão - havia disputas de vôlei, então. Nesse tempo foi criado um grupo infantil de dança e outro de ginástica. Em 1980, finalmente, foi criada a Associação Comunitária do Parque Ararigbóia, usada mais pelo pessoal do futebol.
Do outro lado, na rua Saicã, havia a cancha de bocha - cada qual com um presidente. Em 1992 é que aconteceu a unificação dos dois grupos e a eleição de Hervè para a presidência.

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