terça-feira, 2 de abril de 2019

Reformado, ginásio da ESEF custou 600 mil e agora terá cobertura com vigas metálicas

ESEF vista do alto de um dos prédios do CRFF: a nova pista de borracha destaca-se aos fundos.

Diretor Ricardo Petersen: formou-se aqui, foi o primeiro PHD da faculdade e faz malabarismos para administrá-la.
Dentro de um mês, talvez um pouco mais, o ginásio poliesportivo da Escola Superior de Educação Física (ESEF, na rua Felizardo, entre a Felizardo Furtado e a avenida Salvador França) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – hoje com a sua cobertura em obras de reforma – deverá estar concluído, trocando seus arcos de sustentação, antes de madeira, por estruturas metálicas. O projeto, executado por uma empresa particular, está orçado em 600 mil reais e dará uma nova cara ao mais antigo prédio da escola. “Em 2000 trocamos alguns arcos da estrutura, mas faltava mais dinheiro, chovia muito dentro, e quando ventava ficava até perigoso. Agora, com os parcos recursos que a URGS tem, estamos fazendo a melhoria”, informa o diretor da ESEF, o professor Ricardo Petersen, que gestionou pessoalmente a liberação da verba para uma faculdade (campus esportivo da Federal) que é o principal centro de lazer e esportes do Jardim Botânico, local onde está há décadas.
“Este ginásio originalmente foi criado para vôlei e basquete, mas hoje temos muitas outras modalidades, incluindo o hóquei”, acrescenta o diretor que é, ele próprio, uma referência na Escola: foi diretor da instituição de 1992 a 1996, de 2000 a 2008 e agora, depois de reassumir em dezembro de 2017 (eleito pelos professores, funcionários e estudantes) um mandato que deverá cumprir até 2021 (a gestão dura sempre quatro anos). Ele também foi secretário estadual de Esportes no último ano do governo de Tarso Genro.
Petersen – 67 anos, morador da rua Eça de Queiróz, em Petrópolis, casado, pai de dois filhos e primeiro PHD (o equivalente a doutor) da ESEF, onde se formou em 1973 e com diversos cursos de especialização nos Estados Unidos – é diretor, mas não mágico, e mesmo assim faz malabarismos para administrar a verba fixa de 10 mil reais destinada à Faculdade pelo governo federal todos os meses.
NÍVEL DE EXCELÊNCIA - Manter uma grande estrutura como esta, com mais de 1300 alunos nos três cursos anuais (Educação Física, Fisioterapia e Dança),  mais 110 no mestrado e doutorado, 82 professores e 45 funcionários (cargo de técnico administrativo) não é algo fácil, e precisa ser complementada com os recursos provindos de vários projetos, parcerias e convênios, além das matrículas e mensalidades oriundas de inúmeros cursos que ali acontecem. “Mas aqui eu não mexo com dinheiro, tudo é feito em base de contrapartidas, de serviços prestados. Quando alguém precisa de algo da ESEF, nós trocamos por serviços ou produtos”, informa. Quanto aos projetos, são praticamente uma taboa de salvação econômica, e não somente na parte da infraestrutura como em todos os demais campos: “Somos a unidade da Universidade com maior número de projetos de extensão, por exemplo”, afirma. Um dos setores que mais orgulham o diretor é a Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano, que engloba várias profissões e tem nota 6 de avaliação em uma máximo estipulado de 7: “Poucas universidades, entre elas a USP, que tem muito mais recursos, nos superam. Mas nós queremos em breve chegar ao grau máximo, ao 7, porém já somos considerados como grau de excelência hoje.”
Aberta e frequentada pela comunidade do Jardim Botânico e Petrópolis, sobretudo, a ESEF, local arborizado, tranquilo e seguro, é cenário de caminhadas ao início e no final do dia, um fluxo de quase mil pessoas diariamente, de segunda às sextas-feiras. Não faz muito, aliás, a pista de atletismo estava aberta a tais pessoas, o que não mais acontece depois que foi inaugurada a nova: “A pista é de uso dos alunos de graduação, pós-graduação e de projetos de extensão e de pesquisa”, destaca Ricardo, lembrando que “é um espaço público, mas com finalidades específicas, e muitas pessoas usavam ela com objetivos particulares, personais treiners vinham aqui trazer seus alunos, de graça, sem dar nada em troca, muitas vezes atrapalhando nossos alunos. De fato, não podemos mais abrir para todos, como antes fazíamos”, justifica.
ATLETAS VETERANOS - Pista esta que custou, para a sua construção, 7 milhões e 200 mil reais e foi feita de borracha natural, nos mesmos moldes e padrões das pistas utilizadas nas Olimpíadas e que são fabricadas na Itália. A antiga – que todos lembram pela precariedade, pelos buracos e falhas – era de material sintético, com base em asfalto, e foi feita ainda nos anos setenta, deteriorando-se ao longo do tempo. “Desde a minha primeira gestão ela já estava comprometida e eu queria uma nova”. Nela não treinam tão somente os atletas da Faculdade como, por exemplo, os da AVEGA – Associação dos Veteranos Gaúchos, uma entidade que reúne homens e mulheres acima de 35 anos e com a qual a ESEF firmou uma parceria boa para as duas partes. “Eles treinam aqui e, em contrapartida, ajudam com material de limpeza, essas coisas”, afirma Petersen.
Outra parceria nas mesmas bases foi feita com o Sport Clube Internacional, que utiliza o campo principal, gramado, para treinamentos da sua equipe feminina de futebol (a oficial, que disputa campeonatos). As meninas treinam ali três vezes por semana e o Inter se responsabiliza pela manutenção de tudo – um encargo e uma preocupação a menos para a Escola. O diretor – a propósito das contrapartidas – lembra o muro que cerca a instituição, erguido no início dos anos 2000, graças a um acordo que fez com Lars Grael, então ministro do Esporte, uma jogada contábil (legal, diga-se) para salvar uma competição que aconteceria no Rio Grande do Norte, Estado que não poderia receber recursos federais, pois estava inadimplente em suas contas. “Ele me ligou e me pediu se não poderíamos repassar os recursos nossos, e quis saber o que queríamos em troca. Como o valor do muro era praticamente o mesmo, e era uma grande necessidade, pedi o muro, eles depois nos repassou o dinheiro para isso, um ano depois, aliás, um jogo arriscado também para ele, que empenhou a palavra, e para nós da mesma forma. Mas assim conseguimos fazer essa amurada toda, substituindo os alambrados que não deixaram nenhuma saudade, nem os furos que nela haviam e as pessoas que invadiam o local à noite”.

Vice-Diretora Luciana Laureano Paiva


RÚGBI GAÚCHO NASCEU AQUI - Ao lado do campo existe outro, suplementar, que seguidamente é utilizado para treinamentos de Rúgbi, aquele esporte, um tanto exótico para nós, que é meio futebol inglês e meio futebol americano, usando tanto as pernas como os braços e se valendo de uma bola oval nas disputas bem acirradas. “O Rúgbi gaúcho, aliás, começou aqui. Lembro que havia um argentino que vinha de fusca e nos pedia a cancha. Depois vieram as equipes, como o Charrua. Hoje o pessoal do Rúgbi continua usando o local aos domingos”, diz o professor Ricardo.
Com mais de 1400 alunos, a ESEF foi evoluindo aos poucos, ao sabor dos recursos que vão se apresentando. Um dos projetos mais ambiciosos – hoje ainda um sonho – já existe no papel, porém viabilizá-lo no mundo real custará nada menos do que 20 milhões de reais. “É um novo ginásio, mais um, com dois pisos e uma quadra de 20 por 40 metros. Estamos tentando conseguir tais verbas via área política, com emenda de bancadas, alguma coisa assim, o que é difícil”, relata Ricardo. Outro projeto é de um ginásio de lutas, que já está autorizado, com toda a documentação aprovada, mas, claro, sem a destinação do dinheiro. “Será um local para lutas, para judô, karatê, jiu-jitsu, outras modalidades”, adianta Ricardo Petersen. Indagado se serviria também para lutas tipo MMA e outras competições que hoje fazem sucesso na mídia, o diretor afirma que não – pessoalmente, ele também não gosta nem um pouco de tais tipos de luta. “Sinceramente, acho essas coisas uma estupidez e tanto, é como voltarmos ao tempo do Coliseu romano, até o boxe eu acho muito violento, mesmo o futebol está se tornando violento hoje em dia”.
650 ALMOÇOS DIÁRIOS – Os alunos da ESEF (o curso de Educação Física dura quatro anos de aulas) dos dias de hoje encontram uma vantagem que os demais – uns dez anos atrás, mais ou menos – não tinham: o Restaurante Universitário, RU, resultado da mobilização de toda a comunidade universitária, que se uniu para tanto. Hoje qualquer estudante (os que provam ser carentes não pagam nada) da ESEF (e dos demais seis RUs da UFRGS, incluindo o campus do litoral, em Tramandaí) pode almoçar e jantar no refeitório da Faculdade pagando apenas 1,30 real por refeição – um bandejão bem servido, preparado quase inteiramente na grande cozinha. São cerca de 650 almoços diários e 130 jantas. Os professores pagam mais caro – 9,10 reais. Uma ninharia subsidiada pelos contribuintes – mas, mesmo assim, uma ninharia.
Isso tudo é o mundo interno, o universo próprio dessa Faculdade peculiar, apartada das demais da Federal e que tão bem serve ao bairro Jardim Botânico, um dos motivos para se morar aqui e mais um indicador de qualidade de vida para seus moradores. Basta ver a quantidade de pessoas que, depois de um dia estressante de trabalho e preocupações, coloca um calção e uma camiseta ou um abrigo e vai caminhar ou correr ao longo dos seus muros no final do dia – os portões só fecham quando a noite cai. Pela manhã, já antes das 7 horas, a turma matinal já está a postos. Difícil imaginar o Botânico sem a ESEF.

PARA SABER MAIS SOBRE A ESEF E SUA HISTÓRIA ROLE O CURSOR PARA BAIXO E ENCONTRE MATÉRIA A RESPEITO.

Um comentário:

Anônimo disse...

A pista irá apodrecer sem uso, enquanto a escola não deveria criticar profissionais da área trabalharem em um espaço público sem contrapartida, mas valorizar esses profissionais que elevam o nome da Educação física!

Equivocada a colocação do diretor!


O ginásio é usado por projetos de acordo com o bel prazer dos professores, se ficarem bracinhos terminam e começam outro no lugar que bem entender! E azar dos atletas!

O sol irá usar mais a pista atlética do que as pessoas...