ESEF vista do alto de um dos prédios do CRFF: a nova pista de borracha destaca-se aos fundos. |
Diretor Ricardo Petersen: formou-se aqui, foi o primeiro PHD da faculdade e faz malabarismos para administrá-la. |
Dentro de um mês, talvez um pouco
mais, o ginásio poliesportivo da Escola Superior de Educação Física (ESEF, na rua Felizardo, entre a Felizardo Furtado e a avenida Salvador França) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – hoje com a sua cobertura em obras
de reforma – deverá estar concluído, trocando seus arcos de sustentação, antes
de madeira, por estruturas metálicas. O projeto, executado por uma empresa
particular, está orçado em 600 mil reais e dará uma nova cara ao mais antigo
prédio da escola. “Em 2000 trocamos alguns arcos da estrutura, mas faltava mais
dinheiro, chovia muito dentro, e quando ventava ficava até perigoso. Agora, com
os parcos recursos que a URGS tem, estamos fazendo a melhoria”, informa o
diretor da ESEF, o professor Ricardo Petersen, que gestionou pessoalmente a
liberação da verba para uma faculdade (campus esportivo da Federal) que é o
principal centro de lazer e esportes do Jardim Botânico, local onde está há
décadas.
“Este ginásio originalmente foi
criado para vôlei e basquete, mas hoje temos muitas outras modalidades,
incluindo o hóquei”, acrescenta o diretor que é, ele próprio, uma referência na
Escola: foi diretor da instituição de 1992 a 1996, de 2000 a 2008 e agora,
depois de reassumir em dezembro de 2017 (eleito pelos professores, funcionários
e estudantes) um mandato que deverá cumprir até 2021 (a gestão dura sempre
quatro anos). Ele também foi secretário estadual de Esportes no último ano do governo de Tarso Genro.
Petersen – 67 anos, morador da
rua Eça de Queiróz, em Petrópolis, casado, pai de dois filhos e primeiro PHD (o
equivalente a doutor) da ESEF, onde se formou em 1973 e com diversos cursos de
especialização nos Estados Unidos – é diretor, mas não mágico, e mesmo assim
faz malabarismos para administrar a verba fixa de 10 mil reais destinada à
Faculdade pelo governo federal todos os meses.
NÍVEL DE EXCELÊNCIA - Manter uma grande estrutura como esta, com
mais de 1300 alunos nos três cursos anuais (Educação Física, Fisioterapia e
Dança), mais 110 no mestrado e doutorado, 82 professores e 45 funcionários (cargo de técnico administrativo) não
é algo fácil, e precisa ser complementada com os recursos provindos de vários
projetos, parcerias e convênios, além das matrículas e mensalidades oriundas de
inúmeros cursos que ali acontecem. “Mas aqui eu não mexo com dinheiro, tudo é
feito em base de contrapartidas, de serviços prestados. Quando alguém precisa
de algo da ESEF, nós trocamos por serviços ou produtos”, informa. Quanto aos
projetos, são praticamente uma taboa de salvação econômica, e não somente na
parte da infraestrutura como em todos os demais campos: “Somos a unidade da
Universidade com maior número de projetos de extensão, por exemplo”, afirma. Um
dos setores que mais orgulham o diretor é a Pós-Graduação em Ciências do
Movimento Humano, que engloba várias profissões e tem nota 6 de avaliação em
uma máximo estipulado de 7: “Poucas universidades, entre elas a USP, que tem
muito mais recursos, nos superam. Mas nós queremos em breve chegar ao grau
máximo, ao 7, porém já somos considerados como grau de excelência hoje.”
Aberta e frequentada pela
comunidade do Jardim Botânico e Petrópolis, sobretudo, a ESEF, local
arborizado, tranquilo e seguro, é cenário de caminhadas ao início e no final do
dia, um fluxo de quase mil pessoas diariamente, de segunda às sextas-feiras. Não
faz muito, aliás, a pista de atletismo estava aberta a tais pessoas, o que não
mais acontece depois que foi inaugurada a nova: “A pista é de uso dos
alunos de graduação, pós-graduação e de projetos de extensão e de pesquisa”, destaca
Ricardo, lembrando que “é um espaço público, mas com finalidades específicas, e
muitas pessoas usavam ela com objetivos particulares, personais treiners vinham
aqui trazer seus alunos, de graça, sem dar nada em troca, muitas vezes
atrapalhando nossos alunos. De fato, não podemos mais abrir para todos, como
antes fazíamos”, justifica.
ATLETAS VETERANOS - Pista esta que custou, para a sua
construção, 7 milhões e 200 mil reais e foi feita de borracha natural, nos
mesmos moldes e padrões das pistas utilizadas nas Olimpíadas e que são
fabricadas na Itália. A antiga – que todos lembram pela precariedade, pelos
buracos e falhas – era de material sintético, com base em asfalto, e foi feita
ainda nos anos setenta, deteriorando-se ao longo do tempo. “Desde a minha
primeira gestão ela já estava comprometida e eu queria uma nova”. Nela não
treinam tão somente os atletas da Faculdade como, por exemplo, os da AVEGA –
Associação dos Veteranos Gaúchos, uma entidade que reúne homens e mulheres
acima de 35 anos e com a qual a ESEF firmou uma parceria boa para as duas
partes. “Eles treinam aqui e, em contrapartida, ajudam com material de limpeza,
essas coisas”, afirma Petersen.
Outra parceria nas mesmas bases
foi feita com o Sport Clube Internacional, que utiliza o campo principal,
gramado, para treinamentos da sua equipe feminina de futebol (a oficial, que
disputa campeonatos). As meninas treinam ali três vezes por semana e o Inter se
responsabiliza pela manutenção de tudo – um encargo e uma preocupação a menos
para a Escola. O diretor – a propósito das contrapartidas – lembra o muro que
cerca a instituição, erguido no início dos anos 2000, graças a um acordo que
fez com Lars Grael, então ministro do Esporte, uma jogada contábil (legal,
diga-se) para salvar uma competição que aconteceria no Rio Grande do Norte,
Estado que não poderia receber recursos federais, pois estava inadimplente em
suas contas. “Ele me ligou e me pediu se não poderíamos repassar os recursos
nossos, e quis saber o que queríamos em troca. Como o valor do muro era
praticamente o mesmo, e era uma grande necessidade, pedi o muro, eles depois
nos repassou o dinheiro para isso, um ano depois, aliás, um jogo arriscado
também para ele, que empenhou a palavra, e para nós da mesma forma. Mas assim
conseguimos fazer essa amurada toda, substituindo os alambrados que não
deixaram nenhuma saudade, nem os furos que nela haviam e as pessoas que invadiam
o local à noite”.
Vice-Diretora Luciana Laureano Paiva |
RÚGBI GAÚCHO NASCEU AQUI - Ao lado do campo existe outro,
suplementar, que seguidamente é utilizado para treinamentos de Rúgbi, aquele
esporte, um tanto exótico para nós, que é meio futebol inglês e meio futebol
americano, usando tanto as pernas como os braços e se valendo de uma bola oval
nas disputas bem acirradas. “O Rúgbi gaúcho, aliás, começou aqui. Lembro que
havia um argentino que vinha de fusca e nos pedia a cancha. Depois vieram as
equipes, como o Charrua. Hoje o pessoal do Rúgbi continua usando o local aos
domingos”, diz o professor Ricardo.
Com mais de 1400 alunos, a ESEF
foi evoluindo aos poucos, ao sabor dos recursos que vão se apresentando. Um dos
projetos mais ambiciosos – hoje ainda um sonho – já existe no papel, porém
viabilizá-lo no mundo real custará nada menos do que 20 milhões de reais. “É um
novo ginásio, mais um, com dois pisos e uma quadra de 20 por 40 metros. Estamos
tentando conseguir tais verbas via área política, com emenda de bancadas,
alguma coisa assim, o que é difícil”, relata Ricardo. Outro projeto é de um
ginásio de lutas, que já está autorizado, com toda a documentação aprovada,
mas, claro, sem a destinação do dinheiro. “Será um local para lutas, para judô,
karatê, jiu-jitsu, outras modalidades”, adianta Ricardo Petersen. Indagado se
serviria também para lutas tipo MMA e outras competições que hoje fazem sucesso
na mídia, o diretor afirma que não – pessoalmente, ele também não gosta nem um
pouco de tais tipos de luta. “Sinceramente, acho essas coisas uma estupidez e
tanto, é como voltarmos ao tempo do Coliseu romano, até o boxe eu acho muito
violento, mesmo o futebol está se tornando violento hoje em dia”.
650 ALMOÇOS DIÁRIOS – Os alunos da ESEF (o curso de Educação Física
dura quatro anos de aulas) dos dias de hoje encontram uma vantagem que os
demais – uns dez anos atrás, mais ou menos – não tinham: o Restaurante
Universitário, RU, resultado da mobilização de toda a comunidade universitária,
que se uniu para tanto. Hoje qualquer estudante (os que provam ser carentes não
pagam nada) da ESEF (e dos demais seis RUs da UFRGS, incluindo o campus do
litoral, em Tramandaí) pode almoçar e jantar no refeitório da Faculdade pagando
apenas 1,30 real por refeição – um bandejão bem servido, preparado quase
inteiramente na grande cozinha. São cerca de 650 almoços diários e 130 jantas.
Os professores pagam mais caro – 9,10 reais. Uma ninharia subsidiada pelos
contribuintes – mas, mesmo assim, uma ninharia.
Isso tudo é o mundo interno, o
universo próprio dessa Faculdade peculiar, apartada das demais da Federal e que
tão bem serve ao bairro Jardim Botânico, um dos motivos para se morar aqui e
mais um indicador de qualidade de vida para seus moradores. Basta ver a
quantidade de pessoas que, depois de um dia estressante de trabalho e
preocupações, coloca um calção e uma camiseta ou um abrigo e vai caminhar ou
correr ao longo dos seus muros no final do dia – os portões só fecham quando a
noite cai. Pela manhã, já antes das 7 horas, a turma matinal já está a postos.
Difícil imaginar o Botânico sem a ESEF.
PARA SABER MAIS SOBRE A ESEF E
SUA HISTÓRIA ROLE O CURSOR PARA BAIXO E ENCONTRE MATÉRIA A RESPEITO.
Um comentário:
A pista irá apodrecer sem uso, enquanto a escola não deveria criticar profissionais da área trabalharem em um espaço público sem contrapartida, mas valorizar esses profissionais que elevam o nome da Educação física!
Equivocada a colocação do diretor!
O ginásio é usado por projetos de acordo com o bel prazer dos professores, se ficarem bracinhos terminam e começam outro no lugar que bem entender! E azar dos atletas!
O sol irá usar mais a pista atlética do que as pessoas...
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